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Grão Sagrado: cafeicultores mineiros contam histórias de vida movidas pelo café

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Os irmãos Cássio e Lucimar preservam a produção de café como já faziam seus avós e bisavós. Pedro manteve a propriedade que o pai queria para morar na aposentadoria. Lidiane devolveu a lavoura à família como forma de gratidão. Avós viram nomes de café como homenagem. Histórias de pessoas que tem suas identidades ligadas à cafeicultura e de onde tiram seus sonhos e fazem planos para o futuro.

Em Carmo do Rio Claro (MG) é comum ouvir histórias e lembranças do que as águas da represa de Furnas levaram. As terras férteis que margeavam o Rio Sapucaí até sua foz, no Rio Grande, foram tomadas e restou aos agricultores que ali permaneceram, subir as serras que hoje contornam a represa.

Essa situação, muito comum a muitas famílias no Sul de Minas, é a história dos antepassados do cafeicultor Cássio Balbinos. Segundo ele, seus bisavós tiveram que mudar para o topo de uma serra no bairro rural que leva o nome sua família, o Balbinos.

Cássio e o primogênito Breno com 5 anos - quinta geração. — Foto: Arquivo Pessoal

Cássio e o primogênito Breno com 5 anos – quinta geração. — Foto: Arquivo Pessoal

“Parte da família foi para a parte mais alta do bairro onde moro hoje. O meu bisavô, Manoel Balbino, sempre cultivou o café em pequenas quantidades. Era misto com arroz, feijão, milho e gado. Faziam manteiga, leite, queijo… Essas coisas”, falou Cássio.

A cultura da terra voltada apenas para subsistência durou até 1980 quando a produção de café foi intensificada. Era uma época de muitas dificuldades como, por exemplo, a falta de tecnologias, ausência de local certo para comercializar os grãos e estradas muito ruins.

“O café era levado em carros de boi pra cidade e negociado em coco. Era comercializado direto com o preço que o comprador queria pagar”, contou.

Mas com o passar dos anos, a viagem para a cidade que demorava um dia todo passou a ser feita em minutos com a construção das estradas. Outras modernizações tornavam a cultura do café mais atraente e vieram em um momento decisivo para Cássio.

“Em 1995, com a morte de meu pai, eu tinha 14 anos quando herdei o sítio da família e passei a basicamente mexer só com café”, relembrou.

Cássio contou que tudo começou com o bisavô. “Depois dele, a cultura do café seguiu então para o meu avô Antônio Balbino e depois para o meu pai Luiz Balbinos. Quero preparar meu filho, Breno Balbino, para dar continuidade a essa tradição. Será a quinta geração”, anseia.

A família Balbino - Cássio com os filhos Manuela e Breno ao lado da esposa Carolina. — Foto: Arquivo Pessoal

A família Balbino – Cássio com os filhos Manuela e Breno ao lado da esposa Carolina. — Foto: Arquivo Pessoal

A irmã de Cássio, Lucimar Soares Silva e o marido José Domingos da Silva passaram a cultivar café há 25 anos. “Meus pais faleceram muito cedo. Meu pai tinha 50 anos e minha mãe 53”, lamentou.

Lucimar conta que decidiu continuar com a cafeicultura, assim como o irmão, por gostar de cultivar café. “Gostamos de mexer com essa área e também para dar continuidade ao que meus pais começaram. Ainda por permitir manter a família e por estar gerando emprego e renda para o município. Esses são os fatores que não deixam a gente desistir”, afirmou.

Dos Estados Unidos para a lavoura de café

Paula Dias é filha de mineiros que se conheceram no Rio de Janeiro (MG). As férias eram passadas em Santa Rita do Sapucaí (MG), na fazenda dos avós onde acompanhava a colheita e brincava no terreiro. “Meu avô esperava os netos com uma enxada na mão para nos ensinar a fazer horta. Cresci muito apegada à terra, fazendo queijo e tirando leite de manhã. A gente acompanhava bastante. Meu sonho sempre foi morar ali mesmo”, falou a empresária.

O seu esposo e sócio, Pedro Rodrigues Dias Neto, também é de Santa Rita. Ela conta que o pai dele, Joel Dias, era diretor de um banco em São Paulo e investia tudo em terras na cidade. “Nossa fazenda foi comprada, na ocasião, por ele com 40 mil pés de café. Lá Joel construiu a casa dos seus sonhos, para morar na aposentadoria”, disse Paula.

Ela contou também que, assim que o pai de Pedro se aposentou, ele começou a apresentar os primeiros sintomas do mal de Alzheimer. “Aos poucos ele foi esquecendo tudo”, lamentou.

Paula e Pedro rodeados por dois dos 4 filhos Nikolas, Guilherme, Pedro e a nora Marcella. — Foto: Arquivo Pessoal

Paula e Pedro rodeados por dois dos 4 filhos Nikolas, Guilherme, Pedro e a nora Marcella. — Foto: Arquivo Pessoal

Paula ainda não conhecia aquele que seria seu atual marido, mesmo que toda a sua família já o tinha como amigo.

“Eu não conhecia o Pedro ainda. Ele era amigo de todos na minha família. Eu morava na Califórnia e ele em Nova York. Ele era amigo do meu irmão. Nunca tinha me encontrado fisicamente com ele na adolescência. Sempre nos desencontramos na vida”, brincou Paula.

Ela conta que deixou São Paulo em 2009, após dirigir uma multinacional e foi para Minas Gerais conhecer Pedro.

“Com a crise de 2008, acabei saindo do trabalho e fui para Santa Rita recém-separada e com meu filho. Estive muito doente. Nesse tempo, resolvi fazer um curso de tecnólogo em comércio exterior. E lá tinha um colega que me contou a história de um tal de Pedro que ficava seis meses em Santa Rita e outros seis em Nova York. Ele sempre dizia que tínhamos uma história parecida”, lembrou.

Tantos desencontros acabaram e eles finalmente se encontraram, namoraram e casaram. Depois disso, Pedro assumiu a fazenda do pai e seu primeiro passo foi buscar uma certificação.

“Quando Pedro viu que a mãe começou a vender as fazendas, logo pensou naquela em especial, onde o pai queria viver na aposentadoria. Pediu cinco anos como prazo para recuperar o local, fazer o café valer a pena e manter a fazenda. Foi assim, com períodos no Brasil e outros em Nova York que ele conseguiu”, relembrou Paula.

O casal seguiu trabalhando com exportação do café produzido por eles. Montaram a primeira cafeteria em 2017, fizeram uma loja virtual e abriram outras duas lojas na sequência.

A médica que virou cafeicultora

A médica Lidiane de Oliveira Vilela trabalha em Varginha (MG) e aos finais de semana se torna cafeicultora em sua lavoura em Guapé (MG). “Sou cafeicultora pela tradição familiar, pelo amor a todas as etapas do café e para ter uma outra atividade fora da medicina onde tenho contato com a natureza e revitalizo minha mente”, justificou.

Lidiane conta que seus avós Cassiano Tomás de Oliveira e Maria dos Anjos Alvarenga Costa (Dona Nêga) já plantavam café. “Minha avó ficava responsável pela parte de varrer o chão no final da colheita e o dinheiro deste café era destinado para comprar as coisas para casa. Ela também moía o café no pilão de mão”, contou.

Lidiane com a mãe Suely ao lado de um cafeeiro em flor. — Foto: Arquivo Pessoal

Lidiane com a mãe Suely ao lado de um cafeeiro em flor. — Foto: Arquivo Pessoal

Depois que a mãe dela (Suely Assunção de Oliveira) se casou com o pai (Lázaro Cândido Vilela) Zizico, eles compraram terras no município de Guapé para plantar café.

“Meu pai era um excelente cafeicultor e ele mesmo administrava e cuidava de tudo na roça, chegou a fazer seu próprio sistema de irrigação. Eu e minha irmã Fabiana crescemos em contato na infância com a lavoura, encantadas pela florada e brincando no terreiro cheio de café”, recordou Lidiane.

A infância na lavoura deu lugar aos tempos de faculdade. “Minha irmã foi fazer faculdade de odontologia em Diamantina (MG) e eu fui para Belo Horizonte (MG) cursar medicina”, relatou.

Para estudar as filhas, a mãe Suely decidiu cortar todos os pés de café para “adubar” as meninas. “Ela disse que iria parar de adubar a lavoura para adubar eu e Fabiana”, contou. Mas, depois de 15 anos e já formada e incentivada pelo marido Daniel e pelo sogro Jacques Akerman, Lidiane voltou a produzir café. Essa decisão aconteceu um ano depois da morte do pai. “Isso foi em 2017 e meu pai faleceu em 2016. Então não pude contar com os ensinamos e ajuda dele em relação na cafeicultura”, lamentou.

A médica Lidiane com a filha Beatriz na lavoura. — Foto: Arquivo Pessoal

A médica Lidiane com a filha Beatriz na lavoura. — Foto: Arquivo Pessoal

Hoje, além de Lidiane e do esposo, a filha Beatriz de Oliveira Akerman também frequenta a lavoura. “O café foi plantado no mesmo ano que ela nasceu, em 2017. Mudei para a região do Sul de Minas quando ela tinha 4 meses de vida e ela acompanha todo processo”.

A médica também diz que a filha gosta de ficar na lavoura. “Seu umbigo foi plantado em um pé de café e não em uma roseira como é a tradição. Ela cresceu tendo contato com a lavoura e adora ir ver a florada, os grãos e brincar no terreiro de café”, finalizou a mãe.

Homenagem aos avós

O café especial de Lidiane leva o nome de sua avó. Outra homenagem como essa ocorre em Três Pontas (MG). Lá o café leva o nome do avô de Ana Maria Miranda Belineli.

O homenageado é José Pereira Miranda, mais conhecido como Chico Amado. “Chico aos 13 anos de idade assumiu o sustento de seus nove irmãos e de sua mãe. Seu pai, Amado, ‘não parava em lugar nenhum’. Quando a família fixava em um lugar e começava a ter um renda, logo se mudava. Amado também consumia muito álcool. Tudo isso fez com que Chico tomasse as rédeas da família”, contou.

Ana comenta que seu avô e os irmãos trabalharam como camaradas de roça por muitos anos. “Desde menino, Chico foi meeiro e apanhador de café. Só em 1970 que ele conquistou seu primeiro pedaço de terra com ajuda de seu camarada e amigo Tiãozinho”.

O casal de cafeicultores Chico Amado e a esposa Catarina. — Foto: Arquivo Pessoal

O casal de cafeicultores Chico Amado e a esposa Catarina. — Foto: Arquivo Pessoal

A dupla trabalhou durante 40 anos e foi prosperando. Chico Amado casou-se com Catarina Maria de Jesus Miranda e tiveram 14 filhos. A esposa também ajudava na lavoura.

Ana também comenta que o avô descobriu que o nome pelo qual era conhecido por todos, não era seu verdadeiro nome. “Meu avô iria se chamar Francisco e sua irmã Josefa. Mas, quando o pai dele, Amado, foi registrá-lo no cartório, confundiu os nomes e colocou José em Chico e Francisca na menina. Só depois de muitos anos, meu avô descobriu que seu nome era José”, contou.

A neta conta ainda que Chico era bom de prosa e muito generoso. “Ajudou a construir a cooperativa de Três Pontas e estava sempre presente em todas as reuniões e era muito querido pelos diretores”, relembrou Ana.

Fonte: G1 Sul de Minas

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