Possível subnotificação?
Uma reportagem da EPTV desta quarta-feira (29) revelou que dados de cartórios de Minas Gerais mostram que as mortes por Covid-19 são mais do que o dobro das que constam em registros oficiais.
O Portal de Transparência do Registro Civil mostra que no período de 16 de março, quando foi registrada a primeira morte oficial no país, até agora, foram expedidos 143 atestados de mortes pela Covid-19 no estado. Nesse mesmo período, em Belo Horizonte, os cartórios registraram 23 mortes pela doença. Pelo registro oficial da Secretaria de Saúde do estado, são 16 mortes na capital.
A Secretaria de Estado de Saúde informou que, muitas vezes, o registro nos cartórios é feito como causa provável da morte e que, quando o motivo é comprovado por exame posterior, é possível fazer a mudança desta informação. Ainda segundo a Secretaria, somente os testes podem determinar se a causa do óbito foi por adoecimento pela Covid- 19. E reforçou que os dados publicados são oficiais.
Sem projeções
O professor de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e doutor em economia pela Universidade de Cambridge (Inglaterra), Rafael Ribeiro, diz que é difícil fazer projeções e avaliar estatisticamente a situação do estado diante da pandemia do novo coronavírus porque os dados disponíveis no Brasil “são muito ruins”.
“O Brasil não tem um política de testagem. E os casos de óbitos estão começando a ficar subnotificados”, disse.
Então, o cientista do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da UFMG afirma que as projeções que eram feitas no início da pandemia, com longa duração, não são confiáveis e que é mais seguro fazer projeções mais curtas, de no máximo 10 dias.
“Hoje, é praticamente impossível [fazer projeções]. Um período maior vai ter uma distorção maior. E também a gente não tem uma série de dados, não tem um censo hospitalar. Então, a gente usa muito parâmetros usados lá fora, na China, por exemplo, e isso aumenta a imprecisão”, justificou.
Cenário positivo
Apesar da falta de dados, o também professor do departamento de matemática da UFMG Ricardo Takahashi, especialista em matemática aplicada, tem acompanhado a evolução da doença e diz que a Covid-19 demonstra estar “razoavelmente” em controle.
Para o cientista, um dos indícios de que o governo adotou medidas certas em hora adequada é que, até esta quarta-feira (29), não havia esgotamento de leitos de internação e de UTI no estado.
“A figura de ocupação de leitos é clara em relação a isso. Minas Gerais fez bastante bem o dever de casa. Parou as atividades no momento significativo. Os hospitais estão com vagas garantidas para quem chega hoje”, explicou.
Mas ele também reconhece a falta de dados para estudos mais robustos sobre a evolução da doença no estado.
Takahashi ressalta, por exemplo, que o governo não divulga, nem para o corpo científico que estuda a doença, o número de exames coletados e quantos deram negativo.
“Essa é uma falha grave no monitoramento que não permite verificar o total da população que está infectada”, disse.
O cientista ainda aponta que, para flexibilizar as medidas de isolamento social, é preciso que o estado tenha capacidade de testar uma amostragem mais segura da população também acompanhar os casos confirmados e as pessoas com as quais esse contaminado teve contato.
Outra sugestão é adotar o modelo de liberação que alguns países já testaram, que é autorizar a volta aos poucos de atividades setorizadas e aguardar os resultados, sem precipitação.
“Mas temos que ter condições de saber o que está acontecendo. (…) Identificar os casos rapidamente e contabilizar e saber o que significa estatisticamente”, comentou.
Takahashi conclui dizendo que o estado está em uma situação boa e pode aproveitar este cenário para achar o melhor modelo para retomar a economia.
“Mas, para abrir, precisa tomar medidas de cautelas”, encerrou.
Casos descartados e pessoas curadas
A Secretaria de Saúde de Minas Gerais informou, nesta quarta-feira (29), que havia 6.859 casos descartados da doença no estado desde o início da pandemia.
Sobre pessoas curadas, a pasta informou que o sistema de vigilância em Saúde é feito para identificar pessoas doentes. Desta forma, não há como determinar o número de pessoas curadas. Outro motivo é que muitos dos contaminados desenvolvem poucos sintomas ou ficam assintomáticas e não são acompanhadas pelo governo.
A secretaria acredita, no entanto, que seja possível ter, no futuro, critérios bem definidos pela literatura científica para possibilidade a conceituação de uma pessoa curada.